quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O Oceano no Fim do Caminho

Neil Gaiman está de volta! Fui completamente apanhado de surpresa com a publicação deste livro por cá, quando a Newsletter de uma livraria conhecida surgiu no meu e-mail fiquei pasmado. "O quê já? Mas isto saiu o ano passado!" Não tardei a encomendar, e mal me chegou às mãos devorei-o. É certo que é um livro bem pequeno, mas completamente delicioso. Neil Gaiman está no panteão do Fantástico na minha modesta opinião. Não contente em ter publicado uma das novelas gráficas mais marcantes das últimas décadas, para quem não sabe refiro-me a Sandman, tem publicado livros com constante qualidade, e que abordam sempre uma vertente de realismo-mágico que muito me agrada.

Depois de Deuses Americanos, e um dos meus livros favoritos (sim tenho muitos livros favoritos) A Estranha Vida de Nobody Owens, Gaiman volta a impressionar-me. Neste O Oceano no Fim do Caminho voltamos a ter como personagem principal uma criança, e atrevo-me a dizer que poucos são os escritores que capturam de maneira tão mágica, e ao mesmo tempo tão real, a perspectiva de crianças.

O livro começa com um adulto, o qual nunca sabemos o nome (afinal trata-se de um relato na primeira pessoa faz sentido), que depois do funeral de um parente chegado vagueia até à sua casa de infância. Quando dá por si encontra-se no fim de um caminho, numa propriedade vizinha. É aí que sentado num banco à beira de um lago artificial, com uma senhora idosa a seu lado, relembra um acontecimento fantástico em específico na sua juventude, e com ele somos transportados. Como disse Neil Gaiman é um mestre em capturar a magia da infância. As pequenas coisas que quando éramos crianças para nós significavam o mundo. A diferença entre o mundo dos adultos e mundo das crianças, essa barreira que por vezes sentimos pena de ter transposto. Porque quem teve a sorte de ter uma infância feliz, de certo recorda esses tempos com saudade.

Recordamos com o narrador o dia em que uma tragédia com mineiro de opalas obrigou o seu pai a trocar o mini branco que tinham, e com isso despoletou uma serie de acontecimentos em cadeia. A visita à quinta das Hempstocks, onde provou pela primeira vez leite acabado de sair da vaca, e conheceu a sua amiga Lettie Hempstock. A chegada da malvada Ursula Monkton, que alterou a harmonia da vida do pequeno rapaz de sete anos. Recordamos as aventuras com Lettie para voltar a por tudo de volta ao seu lugar. E no fim, voltamos ao banco à beira do lago artificial, do Oceano como Lettie Hempstock lhe chamava.

Por vezes surgiam passagens que me deixavam pensativo, e me levavam a viajar à minha infância.

"Os adultos seguem caminhos. As crianças exploram. Os adultos sentem-se satisfeitos por seguir na mesma direcção, centenas de vezes, ou até milhares; talvez nunca lhes ocorra a ideia de abandonar o trilho, de rastejar debaixo dos rododendros, de encontrar espaços entre as vedações."

Este livro é para quem como eu, por vezes necessita de mergulhar de novo nesse universo maravilhoso, para quem passa pela rua onde já viveu e brincou até tarde tantas vezes antes, e recorda o nome de todos os colegas e brincadeiras que faziam. Este livro é uma pequena viagem ao passado de todos nós, e é uma viagem deliciosa.

Recomendo sem reservas, um livro que com certeza estará na minha lista de melhores de 2014 (e o ano ainda agora começou). Tudo isto por 14e?! Estão há espera de quê?

sábado, 15 de fevereiro de 2014

The Heroes

Depois destas férias voltei ao vício que é ler, e principalmente ler Fantasia que permanece o meu género literário favorito. E não podia ter voltado de melhor maneira, com The Heroes do grande Joe Abercrombie. Para que fique desde já anotado, Abercrombie é dos meus autores favoritos e ainda não me desiludiu em nenhum livro, e em The Heroes eleva o patamar em relação às suas publicações anteriores. Na First Law Trilogy mostrou ser uma das caras novas da Fantasia rompendo com muitas das ideias preconcebidas no género, no seu primeiro livro stand alone mas passado no mesmo universo Best Served Cold introduziu novas personagens, locais diferentes que apenas havíamos ouvido falar na trilogia inicial, e cimentou o seu lugar em definitivo como um dos mestres na chamada Dark Fantasy, uma fantasia onde fadas e magias arco-íris não tem lugar, em vez disso temos batalhas sangrentas, traições, agendas secretas e afins.

Se alguém achava que Abercrombie tinha dado o seu melhor ao produzir os seus 4 primeiros, e excelentes livros, desenganem-se! Porque The Heroes é até ao momento (e ainda não li Red Country o mais recente) o melhor livro do autor. Numa palavra? É fabuloso! Em várias? É fantasticamente fabuloso!

Em The Heroes temos uma história na veia de Abercrombie, inteligente, visceral, e assim de tudo o autor passa a sensação de que é real. Sentimos que estamos lá, vivemos as personagens, as suas dores e as suas alegrias, uma qualidade na escrita de Abercrombie que muito me agrada. Outra das suas grandes qualidades são os diálogos. É sem dúvida um dos melhores escritores de Fantasia nessa vertente, o que apenas aprofunda ainda mais o ponto anterior que os mundos e conversas dão a sensação de serem reais.

Abercrombie tem uma facilidade incrível em criar personagens que sentem, respiram e vivem nas páginas dos seus livros. Sempre que acompanhamos um ponto de vista de determinada personagem, sentimos que essa mesma personagem tem uma voz própria e única, completamente diferente de uma outra, como aliás qualquer pessoa de carne e osso.

Neste livro, e sem querer dar demasiado da história até porque apenas estão publicados dois livros em Portugal (espero que não tenham decidido parar! Podiam era sem dúvida ter as capas originais Britânicas muuuuito superiores) acompanhamos o ponto de vista de várias personagens na preparação de uma batalha iminente. Ora estando essas personagens de ambos os lados do conflito temos uma visão sobre a batalha privilegiada, e acompanhamos as suas decisões e consequências em primeira mão.



(Comparação das capas nas versões Portuguesa e Inglesa)

Um dos aspectos geniais do livro foi esta mecânica que Abercrombie utilizou para descrever algumas das batalhas. Acompanhamos um soldado da União à medida que carrega sobre as linhas dos defensores do Norte. Estamos dentro da sua cabeça. Quer fazer o que é certo, mas tem medo de morrer, medo de falhar. Uma lança trespassa-o. Olha para o portador da lança que o tombou e vê um soldado do Norte.

De repente o ponto de vista salta para o soldado do Norte que acabou de cravar uma lança no peito do inimigo. Parece algo tão simples, este jogo de saltar de ponto em ponto, mas a verdade é que é fantástico e resulta extremamente bem em cenas de batalhas, dando uma fluidez à acção que simplesmente não nos deixa pousar o livro. Houve alturas em que senti estar a ler os Irmãos de Armas (Band of Brothers grande mini serie sobre 2ª Grande Guerra) versão Fantasia, tal era a componente visual que me despertava o livro e o ritmo.

Muitas outras das facetas já reconhecidas do autor estão presentes, personagens com agendas próprias, descrições viscerais, e como não podia deixar de ser o humor negro de Abercrombie. Neste livro principalmente na personagem do Corporal Tunny, um veterano da União, que tem como lema extorquir dinheiro aos seus camaradas, e no que toca a lutar tudo que não envolva dados, muito pouco obrigado.

Outras personagens de livros anteriores fazem aparições, outras são várias vezes mencionadas, mas como disse falar delas ou demasiado sobre o enredo do livro seria estragar tanto as surpresas deste como dos livros anteriores. Espero que a minha pequena descrição das qualidades do autor chegue para aguçar o apetite. E esperemos que a publicação continue por cá, pois se Abercrombie não vende, pergunto-me o que venderá!

Boas leituras

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

De volta!

De volta depois de umas férias e uma visita rápida a Inglaterra, a verdade é que não tenho lido tanto quanto gostaria, e não foi por falta de tempo, mas estou a por a leitura em dia. Não ajudou muito ter lido um livro razoavelmente extenso (610 páginas) o qual terminei e em breve postarei a crítica, enquanto intercalava com um monstruoso livro de 1100 páginas. Por isso tive desculpa (ou não).

E para quem se está sempre a queixar que não recebe livros de presente, eis que com agradável surpresa na minha ida a terras Britânicas este belo exemplar me foi regalado.




Uma edição especial capa dura da Barnes & Noble do Dracula. Como se pode ver o livro é espectacular, e detém o título de livro mais bonito da minha colecção, destronando curiosamente outro exemplar do Dracula.



Uma edição especial da Harper Collins ilustrada, que também é bem catita. Clássico encontra o moderno. Outra curiosidade é que ainda não li o Dracula, falha que em breve espero colmatar. O que eleva o livro a um patamar superior, além da qualidade de todos os acabamentos, é o facto de no seu interior ( e não é isso que mais conta num livro?!) não ter apenas um romance, mas sim três! 

São eles:

  • Dracula (obviamente)
  • The Jewel of Seven Stars ( publicado em Portugal sob o nome A Jóia das Sete Estrelas )
  • The Lair of the White Worm (que penso não estar por cá publicado )
Como se não bastasse temos ainda uma dúzia de contos da autoria do criador do vampiro moderno. Não li ainda nenhum dos romances, mas devorei um conto diferente todas as noites da minha estadia em Inglaterra. Foram cinco contos fantásticos. O ambiente foi um factor determinante na experiência de leitura, à noite com uma tempestade a rugir lá fora, sozinho em casa numa terra estranha, os pequenos contos ganhavam outra dimensão.

Dos que mais me marcaram encontram-se "Judge's House" clássico conto de casa assombrada, este foi mesmo o meu favorito. "The Burial of the Rats" e "The Squaw" foram outros contos bastante agradáveis. Para quem conhece  Bram Stoker apenas através do seu clássico maior, fica aqui a dica para experimentarem a ficção curta de Stoker.

E obrigado à Sylvia que me presenteou o livro. Um dia não vamos ter espaço para tanto livro!