Depois de Deuses Americanos, e um dos meus livros favoritos (sim tenho muitos livros favoritos) A Estranha Vida de Nobody Owens, Gaiman volta a impressionar-me. Neste O Oceano no Fim do Caminho voltamos a ter como personagem principal uma criança, e atrevo-me a dizer que poucos são os escritores que capturam de maneira tão mágica, e ao mesmo tempo tão real, a perspectiva de crianças.
O livro começa com um adulto, o qual nunca sabemos o nome (afinal trata-se de um relato na primeira pessoa faz sentido), que depois do funeral de um parente chegado vagueia até à sua casa de infância. Quando dá por si encontra-se no fim de um caminho, numa propriedade vizinha. É aí que sentado num banco à beira de um lago artificial, com uma senhora idosa a seu lado, relembra um acontecimento fantástico em específico na sua juventude, e com ele somos transportados. Como disse Neil Gaiman é um mestre em capturar a magia da infância. As pequenas coisas que quando éramos crianças para nós significavam o mundo. A diferença entre o mundo dos adultos e mundo das crianças, essa barreira que por vezes sentimos pena de ter transposto. Porque quem teve a sorte de ter uma infância feliz, de certo recorda esses tempos com saudade.
Recordamos com o narrador o dia em que uma tragédia com mineiro de opalas obrigou o seu pai a trocar o mini branco que tinham, e com isso despoletou uma serie de acontecimentos em cadeia. A visita à quinta das Hempstocks, onde provou pela primeira vez leite acabado de sair da vaca, e conheceu a sua amiga Lettie Hempstock. A chegada da malvada Ursula Monkton, que alterou a harmonia da vida do pequeno rapaz de sete anos. Recordamos as aventuras com Lettie para voltar a por tudo de volta ao seu lugar. E no fim, voltamos ao banco à beira do lago artificial, do Oceano como Lettie Hempstock lhe chamava.
Por vezes surgiam passagens que me deixavam pensativo, e me levavam a viajar à minha infância.
"Os adultos seguem caminhos. As crianças exploram. Os adultos sentem-se satisfeitos por seguir na mesma direcção, centenas de vezes, ou até milhares; talvez nunca lhes ocorra a ideia de abandonar o trilho, de rastejar debaixo dos rododendros, de encontrar espaços entre as vedações."
Este livro é para quem como eu, por vezes necessita de mergulhar de novo nesse universo maravilhoso, para quem passa pela rua onde já viveu e brincou até tarde tantas vezes antes, e recorda o nome de todos os colegas e brincadeiras que faziam. Este livro é uma pequena viagem ao passado de todos nós, e é uma viagem deliciosa.
Recomendo sem reservas, um livro que com certeza estará na minha lista de melhores de 2014 (e o ano ainda agora começou). Tudo isto por 14e?! Estão há espera de quê?
Viva,
ResponderEliminarExcelente comentário e sem duvida que chegou rapido ao nosso pais. Ainda só li um livro do escritor e sem duvida que falta de criatividade não tem e tenho o Bons Augurios por ler à imenso tempo.
Sem duvida um dos melhores escritores de fantasia atualmente embora não conheça muito bem a sua obra :)
Abraço e boas leituras
PS: Bem Algo Maligno está mesmo fixe, sim senhor :)