quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Consider Phlebas

"A guerra assolava a galáxia, Biliões haviam morrido, biliões mais estavam condenados. Luas, planetas, as próprias estrelas, enfrentavam destruição. Os Idirans lutavam pela sua Fé; a Culture pelo seu direito moral a existir. Princípios estavam em jogo. Não podia haver rendição."

Consider Phlebas é o primeiro livro no universo criado por Iain M. Banks, Culture. Penso que todos os livros no universo são histórias independentes umas das outras, mas como tudo nada melhor que começar no início.

A galáxia encontra-se em guerra. Duas das maiores facções lutam por motivos diferentes. De um lado temos os Idirans, uma raça guerreira alienígena que vive para se expandir e levar a sua crença religiosa e o seu Deus aos povos inferiores da galáxia, pois consideram-se os escolhidos para essa tarefa. Do outro lado temos a Culture (ou Cultura em português). A Culture é uma utopia tornada realidade. A Singularidade (ponto em que máquinas atingiram um nível de inteligência superior que os humanos) aconteceu e máquinas sencientes, as Mentes, governam a Culture, libertando os seres humanos para perseguirem todo e qualquer objectivo ou sonho que desejem.

O universo criado por Banks tem por isso uma forte componente política, em que dos dois lados estão ideologias completamente opostas. Sem nunca transparecer que uma ideologia é melhor que a outra, mesmo tendo o protagonista principal claramente contra uma delas, Banks tece uma frágil teia ideológica, política, e moral que nos cativa e levanta tantas questões quantas bons livros nos devem levantar. Estar do lado da evolução biológica, da crença religiosa? Ou do avanço tecnológico, tal que temos entidades parecidas com deuses, mas perdemos a identidade, a busca do que nos faz humanos, entregar o destino nas mãos de outro.

São estas e outras questões que o protagonista desta história deve ter enfrentado, tendo se decidido pelo lado dos Idirans. Horza de seu nome. Humano. Mas uma espécie diferente de humano. Horza é um Changer, o que significa que consegue transformar a sua aparência física e copiar outro qualquer ser humano. Inevitavelmente a sua raça foi recrutada pelos Idirans, e encarregue de missões de espionagem.

É nesta situação que primeiro conhecemos Horza, literalmente com "porcaria até ao pescoço" numa das situações mais bizarras do livro. Desde aí uma espiral de acontecimentos se desenrola. Após Horza ser salvo de uma situação complicada, uma nova missão é lhe atribuída. Uma Mente da Culture despenhou-se num Planeta dos Mortos, e os Idirans querem capturar essa Mente. Para isso decidem enviar Horza, pois só ele conseguirá ter acesso ao Planeta dos Mortos. E é aqui que me apercebo de que este livro é apenas a porta de entrada para um Universo maior.

Passo a explicar, os Planetas do Mortos mais não são que museus, exposições à escala planetar de civilizações que dizimaram toda a vida nos planetas que habitavam, incluindo a sua. Estes planetas são guardados, ou neste caso curados, por seres extraordinários, quase deuses, chamados Dra'Azon, que não admitem interferências do mundo exterior com os seu monumentos à morte. Por quão interessante e rico isto possa parecer, não passa de uma história secundária, um doce dentro do saco de gomas que é todo o livro.




À medida que acompanhamos Horza na sua missão muitas mais situações se desenrolam, desde a captura por selvagens canibais liderados por um profeta louco, a um jogo de sorte e azar em que perder uma vida significa perder literalmente uma vida humana, ao inevitável confronto final que se torna mais pessoal que profissional.
Horza não é de todo o herói que se espera, tem defeitos, e várias vezes dei comigo a discordar com a maneira que agia, ou a achar um seu opositor mais digno.

Mas aí está a beleza deste grande livro de sci-fi! Não é tendencioso para qualquer dos lados do conflito, e embora eu tenha a maior parte das vezes alinhado mais com a ideologia da Culture, várias foram as vezes que discordei também. Um grande livro para iniciar um Universo que ao que tudo indica será rico e cheio de ambiguidade moral e surpresas.

O aspecto mais negativo do livro será a forma algo rápida, na minha opinião, como o final se desenrolou. Não a batalha e acontecimentos finais, mas o tratamento. Queria saber mais sobre os Dra'Azon, Sobre a Culture e o seu modo de vida. Sobre o passado dos Idirans. O que no fim acaba por não ser sequer um aspecto negativo.



Infelizmente Iain M. Banks deixou-nos durante este ano. A melhor forma de honrar a sua memória será lendo a sua obra que se estende não só pelo ramo da ficção cientifica com os livros no Universo Culture, mas também com os seu livros de literatura genérica assinados sob o nome de Iain Banks. Infelizmente não existe uma edição recente das obras de Banks em Portugal. Uma pesquisa rápida pelo site da Wook mostrou-me que, para grande surpresa minha, este livro está publicado em português. Uma publicação de 1991, que está apenas a 6,32e! É de aproveitar, é um grande livro, o qual recomendo. Embora existam mais livros neste Universo, Pensa em Phlebas  pode ser lido individualmente sem qualquer problema.

Se procuram boa ficção científica, aqui está uma opção a considerar.

3 comentários:

  1. Viva,

    Está acessível sim senhor e parece um livro muito interessante, só prova que a FC tem excelentes livros :)

    Segundo sei este escritor vai ser aposta da SDE para 2014, espero ler ;)

    Abraço e boas festas

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Oi amigo Fiacha,

      Ora bela notícia essa da aposta da SdE em Banks! Tem se publicado pouco FC de qualidade ultimamente, e é um género tão rico e importante que é uma pena. Esperemos então pela SdE tomar a iniciativa.

      Abraço boas festas e tudo de bom

      Eliminar
  2. Ois,

    Verdade seja dita que a nível de FC nada de extraordinário tem sido publicado nos dias atuais, mas há muito por de parte a FC sem duvida, nem percebo bem porque ;)

    Abraço e vamos ver em que obras a SDE vai apostar :)

    ResponderEliminar